Montevidéu em janeiro e o verão no Uruguai

Voltei das férias em La Paloma e região na última segunda-feira. Como de costume em todo início de janeiro, encontrei uma Montevidéu mais tranquila, com muitas luzes apagadas e portas fechadas.

Antes do ano virar tinha feito uma lista com dez restaurantes e cafés novos para conhecer (aguardem posts) e achei que já era hora de começar as aventuras gastronômicas por aí. 

Chamei Luísa, carreguei a bebê e lá fomos nós animadas em busca das novidades: passamos pela rua onde deveria estar o café e zero movimento. Paramos o carro e checamos o endereço nos celulares e GPS por las dudas. Era ali mesmo. Manobrei e olhei mais atenta, achei a casa. Estava fechada numa sexta-feira às 17h e pouquinho.

Pensamos em algumas opções próximas. Tinha outro dessa mesma lista bem pertinho, eba! Errr... fechado. Ok, vamos deixar essa história de lista de lado e partir para onde já conhecemos, no querido Pecana talvez? Not, fechado. Tá bom, olha o Adolfo ali na frente. Ops, fechado também. E já quase vindo passar um café em casa, achamos o Hoy te Quiero aberto.

Fiquei pensando como essa realidade provoca diferentes reações nos turistas. Muita gente chega e vai embora achando que Montevidéu tem essa cara de janeiro o ano inteiro. Outros se divertem igualmente. E alguns reclamam absurdamente, onde já se viu tudo fechado assim? A cidade não está preparada para receber turistas, houve quem afirmasse incomodado.

Montevidéu tem muitos defeitos, como todo lugar deve ter, mas se tem uma época que eles parecem irrelevantes para mim é no verão. O verão no Uruguai tem uma onda especial que eu nunca senti em outro lugar. E estou falando das pessoas e uma energia roots-feliz que toma conta dos balneários.

Janeiro tudo acontece no leste, os balneários ficam cheios de vida, há muitas festas e ao mesmo tempo tranquilidade, um clima boho-chic-hippie, uma atmosfera rústica e despojada. 

Se você pensou em Punta del Este, não é bem desse verão que eu estou falando. Punta pra mim sempre foi um mundo a parte. 

Estou falando de La Pedrera, La Paloma, Cabo Polonio, Punta del Diablo e afins. Do verão que eu imagino bem uruguaio, de praia sem frescura, de mar gelado, das feirinhas de artesãos e vendedores de tortas fritas e empanadas, dos campings e das hortênsias coloridas enfeitando as casas que tem plaquinhas com nomes engraçados.

Rua principal de La Pedrera

Baladinha na praia em La Pedrera

Meu coração desfilando no verão! E bikini + casaco na praia, temos! :)

Os lobos marinhos de Cabo Polonio

A falta de movimento na capital no início de ano eu costumo chamar de rebeldia mansa, por vezes tenho a grata impressão que os uruguaios não percebem que estão desafiando a ordem. O mundo é frenético, a vida é correria louca o tempo todo, todo mundo quer fazer dinheiro num ciclo interminável de compromissos e afazeres. Não sobra tempo, não dá para parar tudo, não por 15 dias, quem dirá 30 dias, chega a soar insano.

Mas muita gente aqui faz isso, muita mesmo. Férias coletivas para viver. Não é aquele lance de chegar e só o dono estar de férias curtindo o verão, é chegar e estar tudo fechado (sim, eu sei que muitos trabalhadores vão exercer suas funções no leste e não apenas tomar sol, mas o ponto da discussão aqui é outro mais sutil). 

As vezes nem rola um aviso formal porque é uma parada tão normal e tão óbvia que praticamente não precisa. A clientela não dá chilique, chega janeiro e ok descansar, reunir a família e amigos, pegar uma prainha, sol, jogar bola, fazer churrasco, ficar de boa na lagoa. 

Fevereiro já chega e o mundo continua girando. Lembrar disso faz bem, ousar desacelerar também.

E se você viaja em janeiro, calma rs! Sempre terá coisa para fazer em Montevidéu, olha eu fazendo nada às 20h na praia de Malvín (veja roteirinho no bairro aqui) nessa quinta-feira. Chato? Não, né?!

Feliz verão, gente linda! :)