Roteiro de um dia em Colonia

Uma segunda-feira chuvosa, o ritmo lento de sempre que Colonia oferece, as callecitas cheias de surpresas apesar de serem as mesmas de toda vida.


Acabei de falar lá no IG, mas num contexto de treta, menos leve e poético haha, sobre ver sinais e 'conversar' com as cidades, tem lugares que parecem gente com energia e personalidades próprias, me conecto de um jeito diferente. 


Colonia é assim, não sei dizer muito bem em termos lógicos ou mercadológicos para o viajante check list ou virginiano mestre dos planos o que fazer por A + B, eu simplesmente vou e me deixo levar. E a cidade me envolve. Há sintonia. É gostoso. Alimenta os olhos e a alma.


Mas, não desistam de mim haha, vou estruturar melhor o que ver (aka o que vimos) em um dia nas próximas linhas. 



Acordamos cedinho e fomos buscar um lugar para desayunar, passamos pelo muelle viejo e puerto de yates que eram vizinhos a nossa pousada, a cidade despertando num tom de branco e cinza. 

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Trilha no Cerro Pan de Azúcar

Venho de uma cidade cheia de contrastes e ritmos, que sobe e que desce ao som da maré e também de ladeiras, levei um tempo para acostumar o olhar à paisagem plana e em certa medida mais homogênea de Montevidéu, um tal de pegar reto toda vida, um balanço mais suave.

Avistar o Cerro Pan de Azúcar sempre trouxe um quentinho bom no corazón, do nome que remete diretamente ao Brasil, da paisagem mais curvilínea, irregular. A urbe que fica para trás, o verde que se faz mais presente, o mar que a gente sabe que tá logo ali dobrando a esquina. Cara de férias ou escapaditas no leste, gosto.

Terceiro pico mais alto do país com 389m. Faz parte também de um território místico. Mundo de alquimistas e maçônicos. Parada de viajantes aventureiros: é possível fazer uma trilha com vistas belíssimas e chegar até a cruz que fica no topo do morro.
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Oi, sumida!

Volto a escrever depois de uma longa pausa. 6 meses para ser exata. Tanto mudou. Até o layout dessa plataforma, tá tudo diferente e eu perdida nas funções, atalhos e teclado. Metáforas da nova vida também. 

Primeiro, perdi as notas do celular. Todo o conteúdo das férias no Uruguai tava lá, um belo dia deixou de funcionar, eu vida loka nunca fiz cópia de seguridad. Aí fui relembrando e escrevendo aos poucos no computador e caí no mesmo erro. Desapareceu sem deixar vestígios. Fim de uma era, pensei dramática, o universo mandando mensagens, ninguém nem lê mais blog, fia. Pára.

Então veio o apocalipse, confinamento. Coletivo, sério, pesado. Obviamente não estou no Brasil nem Uruguai, isso aconteceu na Catalunha (e em outras localidades sensatas do mundo). 100 dias de confinamento coletivo sob pena de multa e prisão, saídas verdadeiramente restritas e justificadas. 

Eu, que estava com a imunidade baixa, fiquei 27 dias seguidos sem sair do apartamento. Para nada. Nenhuma fugidinha, jeitinho ou necessidade exterior. Trancados com uma criança ativa de 5 anos acostumada a vida outdoor que a gente vivia. Redução de salário. Curso pela metade. Escola fechada. Notícias ruins. Medo e ansiedade. 

Nós do outro lado do mundo sem ninguém para acudir num infortúnio qualquer, fronteiras fechadas. Soledad e introspecção. Escola online em catalão, a primavera que vimos de um espelho partido. Camarada Benedetti me contou, esse uruguasho sangue bom. A literatura salva. Nunca li tantos livros num intervalo tão curto, ou não. A medida de tempo já não fazia sentido. Nada fazia sentido. O que dizer, o que contar. Para quem contar. Recortes e privilégios. Nossos fantasmas leves perto de outras dores.

Uruguai-confinamento
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