Uma segunda-feira chuvosa, o ritmo lento de sempre que Colonia oferece, as callecitas cheias de surpresas apesar de serem as mesmas de toda vida.
Acabei de falar lá no IG, mas num contexto de treta, menos leve e poético haha, sobre ver sinais e 'conversar' com as cidades, tem lugares que parecem gente com energia e personalidades próprias, me conecto de um jeito diferente.
Colonia é assim, não sei dizer muito bem em termos lógicos ou mercadológicos para o viajante check list ou virginiano mestre dos planos o que fazer por A + B, eu simplesmente vou e me deixo levar. E a cidade me envolve. Há sintonia. É gostoso. Alimenta os olhos e a alma.
Mas, não desistam de mim haha, vou estruturar melhor o que ver (aka o que vimos) em um dia nas próximas linhas.
Acordamos cedinho e fomos buscar um lugar para desayunar, passamos pelo muelle viejo e puerto de yates que eram vizinhos a nossa pousada, a cidade despertando num tom de branco e cinza.
Avistamos o Bastión del Carmen ainda fechado, na vida pré covid costumava ser um centro cultural com exposições, atividades e um jardim com bela vista ao rio.
Encontramos o Ganache Cafe aberto e o dia começou bem, cafe de especialidade, ambiente aconchegante, detalhes em cada canto, do lado de dentro e do lado de fora da casa. Suco natural, biscoitos, sanduíches e bolos: opções para toda família.
Não encontrei agora informação se o café resiste e segue aberto, como alternativa deixo uma dica linda e recente na cidade que ainda não pude experimentar (planos de viagem cancelados): O Albertine Café, padaria super charmosa e com mãos brasileiras.
Alimentados, fomos caminhar pelo casco histórico, essa parte fofa que os turistas circulam, mas a cidade de Colonia vai muito além disso e nesse passeio quis explorar também o lado da rambla, o calçadão que acompanha a prainha de rio, é um passeio perfeito para fazer de bicicleta (dá para alugar e fazer um circuito até a Plaza de Toros, por exemplo), mas chego nessa parte logo mais.
Andamos pelo cais, ruelas e pracinhas. Fizemos pausas para a criança brincar e fotografar mil e uma fachadas com flores bonitas. Visitamos 2 museus: Indígena e Português.
Colonia é uma cidade histórica com muitas particularidades, foi fundada pelos portugueses no século XVII, sendo então considerada a cidade mais antiga do Uruguai.
A ocupação dessa região foi uma estratégia da Coroa Portuguesa visando ampliar suas fronteiras para facilitar os já rentáveis negócios com a América Espanhola.
Obviamente, os espanhóis não gostaram nada da ideia e lutaram pelo território, os anos de disputa ficaram marcados na estrutura arquitetônica da cidade que mistura traços de estilo português (presença mais marcante) e espanhol. O bairro histórico é declarado Patrimônio da Humanidade.
Essa parte de Colonia com suas ruelas coloridas e floridas é bem fácil, diria até intuitiva para desbravar caminhando.
Recomendaria começar pela Puerta de la Ciudadela, também conhecida como Puerta de Campo, as ruínas do que seria a entrada da cidade colonial.
Uma construção levantada no ano de 1745 amparada por largas muralhas que protegiam a cidade dos invasores. Essa porta foi restaurada e reconstruída algumas vezes, mas conserva ainda parte da muralha original e da estrutura do fosso e ponte de acesso.
Desse ponto costumam sair os walking tours, se tiverem interesse podem fechar na hora e fazer o passeio conhecendo mais detalhes da história da cidade.
Da Puerta de la Ciudadela a seguinte parada é a Calle de los Suspiros, a mais famosa e fotografada, originalmente chamada de Ansina, há vários contos que justificam o novo nome adotado e o mais popular é que nesse lugar haviam muitos prostíbulos, refúgios de marinheiros e soldados em busca de diversão, que passavam e suspiravam pelas chicas.
Outras fontes indicam que os condenados a morte eram levados até essa rua e quando a maré subia, morriam afogados, dando o último suspiro. E aí, com qual versão você fica?
Seguimos em direção a Plaza Mayor e paramos no Museu Português. Os museus de Colonia são todos pequeninos, fáceis e rápidos de conhecer.
Você compra o ticket único - na última vez paguei 50 pesos - e tem acesso aos sete disponíveis (Museu Português, Museu Espanhol, Museu Municipal, Museu Nacarello, Museu Indígena, Museu do Azulejo, Museu Paleontológico).
Daí continuamos rumo ao farol que foi construído em meio as ruínas do Convento de San Francisco, o maridón queria subir os muitos degraus e fazer novas fotos da vista da cidade e a imensidão do Rio de la Plata lá do alto, mas chegou na hora da siesta, estavam fechando e ficou para outro dia.
Eu já estava numa outra pausa para um sorvete com a pequena na Freddo, Gabi juntando pedrinhas e sementes para construir sua própria coleção de museu, eu derretida de ternura.
Fizemos outra parada no Museu Indígena, depois passamos na Plaza de Armas e Igreja Matriz (Basílica del Santíssimo Sacramento), a primeira igreja construída no Uruguai.
Então deixamos o centrinho e partimos de carro para o campo. Um trajeto curto de 10 minutos e outra paisagem, outra viagem. Almoçamos no incrível casarão do Las Liebres, tem um post completo sobre a experiência aqui e recomendo fortemente.
Na volta a cidade paramos na Plaza de Toros, uma construção no mínimo curiosa: uma praça de touros arquitetonicamente bonita, mas inicialmente pensada na finalidade deplorável de torturar animais como entretenimento.
Felizmente, essa 'cultura' não deu certo no Uruguai, funcionou por 2 anos e contou com 8 touradas oficiais, desde então ficou abandonado, mais de 100 anos largado e infinitos rumores de reforma com fins mais lúdicos e razoáveis.
Parece que agora engrenou de vez o projeto de restauração, o novo espaço manterá o aspecto original, abrigará eventos esportivos e artísticos, terá locais comerciais e otras cositas. Já é possível fazer visitas guiadas - retomaram nessa segunda-feira, 17, com grupos limitados - e apreciar o interior da obra, eu sempre quis entrar (antes da reforma havia perigo de desabamento).
Do outro lado da rua fica o Museo del Ferrocarril.
Nós seguimos para a rambla e terminamos o dia contemplando a beleza do Rio de la Plata, mesmo sem a presença do sol que é parceiro nessas terras do sul e costuma pintar o horizonte de dourado e laranja, foi um dia bonito e feliz.
Mexer nessas fotos e memórias me deixou mais saudosa, mal posso esperar para caminhar por essas callecitas novamente.
Colonia pra mim sempre foi sobre sentir. Não sei se cumpri a expectativa de criar um roteiro de um dia em Colonia hehe, estruturar as ideias objetivamente e tal, só desejo que vocês também sintam e passem um dia delícia por lá quando for possível.
Abraço e até a próxima! ;)
Esse roteiro parece maravilhoso!
ResponderExcluirFico feliz que gostou, Gustavo :)
ExcluirOlá, Mile, tudo bem?
ResponderExcluirAcompanho você desde o começo do ano. Te achei nas buscas Google procurando informações sobre como morar no Uruguai, como funciona esse processo, etc. Li alguns vários posts antigos seus, mas nunca tinha entrado em contato. Gosto muito do jeito como você define o Uruguai, quão poética é sua forma de enxergar as belas paisagens daí! Parabéns!
Queria saber de você se (obviamente após a "pandemônia") ainda é possível viver aí no Uruguai sendo imigrante. Meu sonho não vingou em 2020, mas espero que não mingue pra sempre.
Beijo e obrigada pela disposição de escrever tão lindamente sobre esse lugar maravilhoso <3
Barbara, que lindeza sua mensagem! Muito obrigado por ter tomado o tempo de escrever <3
ExcluirEu tenho contato com gente que imigrou durante a pandemia, obvio nao é a melhor condição, mas não é impossível (verdade tb que eram pessoas que já planejavam a algum tempo, não dá pra ser no supetão). Vou ficar na torcida pra vc realizar, seja no tempo que for. Abraço!