Hoje vou contar do nosso fim de semana no Hotel Caliu, uma hospedagem diferente e especial em Colônia do Sacramento.
Fica distante apenas 6km do centrinho histórico mais fofo que a gente conhece no Uruguai, é bem perto, mas já afastado o suficiente para proporcionar outro cenário e uma experiência mais slow, de campo, natural.
Foi o primeiro hotel autossustentável do Uruguai, construído em 2019 com base no modelo Earthship Biotecture criado pelo arquiteto norte-americano Michael Reynolds.
Um método ecológico de construção que utiliza materiais naturais e reciclados - como pneus, garrafas de vidro, latinhas, papelão.
Trata-se de um sistema inteligente e funcional que dentre outras características pode armazenar, filtrar e redirecionar a água da chuva para diferentes fins, usar energia solar, é capaz de regular a temperatura interior com base na estrutura e materiais empregados na construção, não dependendo assim de ar condicionado ou calefação, etc.
Um tipo de construção que não gera impacto ambiental, ajuda a reciclar e repensar novas formas de habitar com beleza, propósito e funcionalidade. O Michael e sua equipe já viajou o mundo inteiro levando essa expertise para diversos projetos, tanto públicos como privados.
O projeto em Colonia é uma iniciativa da Jessica e do Mauro, um casal de argentinos que se instalaram no Uruguai e apostaram nesse sonho bonito de vida: abrir um hotel ecológico.
Eles apresentaram os planos à organização do Michael Reynolds, foram selecionados e a construção começou no mês de fevereiro de 2019 quando chegaram cerca de 65 pessoas de diferentes partes do mundo para colaborar e aprender o método (durante a obra havia também oficinas técnicas, tudo acontecendo ao mesmo tempo: aulas e prática).
Os números são impressionantes: cerca de 1.700 pneus utilizados como tijolos, umas 40.000 garrafas de plástico e vidro, centenas de latinhas e toneladas de papelão.
Eles gravaram um vídeo dessa jornada e impacta profundamente: montanhas do que enxergamos como lixo se transformando harmonicamente num espaço belíssimo com a força e empenho de muitos braços.
A equipe formada por voluntários e estudantes - além dos donos e técnicos, o próprio Michael esteve presente - acampada no terreno, dias de chuva e sol, fazendo tudo se transformar no que encontramos hoje.
Eu tinha muita expectativa nessa visita ao Caliu, nossa criança também estava empolgadíssima para ver de perto as 'paredes coloridas com fundo de garrafas e a horta orgânica, o que será que estaria pronto para comer?'. Nosso jeitinho de envolver as crias nas viagens, antecipar e instigar a imaginação, curiosidade.
Mas, para ser bem honesta, também tinha um tiquinho de receio com as instalações porque completamente convencida sobre a importância de iniciativas como essa, mas verão em Colonia, né gente. Quente pra caramba. Será que daria conta mesmo sem um ar condicionado? E olha, deu demais. Não passamos um único perrengue para nada.
Nosso quarto aconchegante, espaçoso, limpo. A entrada com um invernadero e plantas tropicais, um pé de maracujá, inclusive. Agregando não apenas beleza, mas também contribuindo na regulação térmica, um espaço vivo.
O atendimento foi cordial e atencioso desde a reserva, encontramos os proprietários todos os dias (se nota que ocupa esse lugar de trabalho e projeto de vida mesmo, tem presença e atenção aos detalhes), o café da manhã era farto e caseiro (a senhora que trabalha no café foi de uma gentileza imensa conosco) como as férias merecem.
Também jantamos uma noite no bar-restaurante que está aberto ao público em geral e é uma maneira interessante de conhecer o projeto caso não consiga ficar hospedado. Pedimos risoto e cordeiro, pratos corretos e saborosos, encontramos também buena onda, boas cervejas e vinhos locais.
Testemunhamos uma forma diferente de viver e se relacionar com o entorno, uma experiência que recomendo a todos (e não, esse texto não é uma resenha fruto de parceria, pagamos todos os gastos).
Abraço e até a próxima! :)
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