Por vichar, foi minha resposta ao primeiro como nos encontraram (do verbo olhar com curiosidade no jeito mais uruguaio de ser).
Procurando terrenos na região, passei pelo que pensei que fosse uma cafeteria, guardei no mapa para visitar outro dia com mais calma. Voltei e descobri que se trata de uma tostaduria pequenina a poucos metros do mar em Chihuahua.
Talvez o balneário com nome mais estranho do leste, possivelmente o menos careta, onde fica a praia nudista com um por do sol escandaloso de belo e também muitos estabelecimentos com bandeira lgbtq+, um filtro natural de gente com a mente cerrada, me diria mais tarde Matias.
Era uma quarta-feira pré-temporada, só corria o vento. Paz e silêncio. O discreto cartaz dizia fechado, então resolvi ligar para confirmar o horário. Estava aberto, a placa do avesso foi pelo vento ou esquecimento.
Matias abriu o portão simpático e nos convidou para entrar contando com entusiasmo sobre o projeto: café de especialidade, ecológico, inclusivo. Ele uruguaio, a companheira austríaca, ambos professores de tango com longa experiência em projetos sociais com adolescentes e PcD mundo afora.
Trabalham com grãos de origem brasileira, torram e embalam - usam também latas recarregáveis - nessa casa perto do mar há pouco mais de um ano. Me despedi levando uma latinha de café com aroma intenso que perfumou todas as manhãs do restinho das nossas férias.
Não há serviço de cafeteria no Cafetin, apenas venda. Também encontramos o café que ele torram em outros locais, como no Mercado Verde (Montevidéu e Punta del Este) e Almacén Gaia (Punta del Este).
Procurando a saída nos guiando pelo sentido comum e nos perdendo entre ruas bem parecidas, encontramos uma padaria: a Bo'Pan. Estacionamos e novamente nos fizeram a pergunta como nos acharam. Vichando, acaso.
Estavam em plena produção para o dia seguinte, abastecem pequenos comércios locais, a venda direta ao público acontece apenas no sábado. Lamentei com sinceridade. Então, o rapaz perguntou se conheciamos a padaria perto dali pela interbalnearia.
Passamos muitas vezes ao longo da semana, mas nunca tinha visto. Está buena, recomendou. Qual o nome? Não sabia, mas apontou que ficava antes de chegar no mercado Tienda Inglesa. Saindo de Chihuahua sentido Solanas.
Confiamos e fomos ainda mais atentos olhando ao redor, a moça do GPS com sotaque gallego nada tinha a dizer. E bingo! Ali onde se encontram as ruas Del Portezuelo e Rosa de los Vientos.
Vento presente, vento companheiro, vento teimoso, vento guia, um grande personagem do dia também.
Não tinha um cartaz chamativo nem nome aparente, apenas mesas simpáticas e um discreto pizarrón que anunciava delícias de fermentação natural.
Desci para vichar outra vez. Foi difícil escolher o que levar: vitrine com bolos, doces, bizcochos, alfajores e pães, entre tantas voltas na manhã já estava mesmo faminta.
Só fui dar conta do nome quando voltei pela terceira vez: Iguinís.
Nos minutos que levei para decidir meu pedido, observei o boca boca dos vizinhos que também chegavam pela primeira vez com indicações, um déjà vu quase como já vivemos um dia. Cês lembram? A vida pré app's, de reviews faladas, olho no olho, indicações gesticuladas, um quê de siga reto toda vida.
Tempo e trocas. Achei bonito, nostálgico. Gosto de gente. E de pão e café ❤️
Nenhum comentário